São escassos os livros e os ensaios sobre o edifício do Ministério da Educação e Saúde Pública (MESP) que aprofundam as suas inovações de adequação climática e tecnológicas, com exceção do estudo da autora norte-americana Elisabeth D. Harris e do professor Oscar Corbella, que detalham a significação e a utilidade dos brise-soleil. Em geral, as análises aprofundam o caráter inédito da tipologia arquitetônica para a sede de um edifício público, e as qualidades urbanas, formais e espaciais que o colocam entre as primeiras obras importantes do Movimento Moderno no Brasil e na América Latina.
No entanto, o edifício contém uma série de contribuições tanto no seu condicionamento ambiental quanto nas infra-estruturas técnicas que não eram difundidas nos edifícios de escritórios construídos no Rio de Janeiro na década dos anos trinta, e menos ainda nos prédios públicos construídos pelo governo Vargas. Nesse sentido, destaca-se o desenho da estrutura de concreto armado, elaborada pelo engenheiro Emílio Baumgart. Para eliminar a presença de vigas no interior dos espaços de escritórios, permitir a continuidade dos ambientes e a possibilidade de organizar as funções na planta livre, foi utilizado um sistema de lajes tipo piltz-decken com os cogumelos de suporte invertidos e absorvidos na espessura da laje de 30cm, que também permitia a inserção das tubulações horizontais da instalação elétrica. Ao mesmo tempo, os pilares modulados foram recuados e separados da fachada, o que permitia a imagem leve do volume principal. A adequação climática do edifício ao seu sítio é o tema mais conhecido, em particular pela utilização dos brise-soleil cobrindo a totalidade da fachada, desenvolvidos por Le Corbusier, mas que nunca tinham aparecido em uma fachada de um edifício daquele porte. Tampouco tinha sido executada uma fachada totalmente envidraçada – a curtain wall – posteriormente desenvolvida nos edifícios de escritórios nos Estados Unidos, que permitia a ventilação natural cruzada no interior, evitando assim o uso do incipiente ar condicionado, somente presente no pavimento do Ministro. Além disso, a contribuição mais original do projeto foi o desenho do sistema elétrico, telefônico e da
iluminação artificial, baseados em uma modulação de 1.50m x 1.50m, que cobria todo o pavimento, permitindo a livre disposição dos funcionários. Para garantir tal versatilidade, foi criado um sistema de distribuição baseado na presença de pequenas caixas metálicas associadas aos corrimãos, que corriam ao longo das fachadas, com a localização dos fios em seu interior. Para obter uma iluminação artificial homogênea foram colocadas luminárias de origem inglesa, no teto de cada andar que criavam uma luz uniforme, já que não existiam paredes divisórias que chegavam até o teto, conservando-se a unidade do espaço contínuo. Em função das características ligadas ao conforto ambiental e ao uso de soluções tecnológicas inovadoras, pode-se afirmar que o edifício do MESP, à época de sua inauguração na década de quarenta, foi o mais moderno edifício de escritórios do Rio de Janeiro e do Brasil.
Autores
Ano do texto: 2009
Tags: Arquitetura moderna brasileira, clima e arquitetura, e vanguarda carioca
Citação ABNT
SEGRE, R. ; BOAS, N. V. ; SOUZA, L. T. . O Ministério da Educação e Saúde Pública (1935‐1945): As inovações climáticas e tecnológicas. In: 8º DOCOMOMO Brasil, 2009, Rio de Janeiro. Cidade Moderna e Contemporanea: Paradoxo e Síntese das Artes. Rio de Janeiro: PROURB, 2009.